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24 de dez. de 2010

O último pronunciamento de Lula

Quem me conhece e/ou lê este blog sabe de que maneira encaro a figura Lula e seu governo. Muitas vezes meu posicionamento causou certos problemas. Não vou listar aqui todas razões que me levam a considerar seu  governo um sucesso, nem tampouco indicar novamente as falhas e erros que aconteceram ao longo destes oito anos. O que tem validade neste momento é levantar duas questões que fogem a uma avaliação pessoal.
O último pronunciamento do presidente em rede de televisão serviu como um resumo de tudo o que considerou positivo em seu governo: retomada do papel do Estado na promoção do desenvolvimento econômico, diminuição da desigualdade social  (via transferência de renda, aumento real do salário mínimo, ampliação do acesso ao ensino técnico e universitário), diminuição da desiguladade entre os entes federativos, política externa independente e soberana.
Além de realizações, o discurso também trouxe uma particular imagem de Lula. É presente a ideia de que sua eleição foi uma ruptura política. "Nunca antes na História do Brasil" um homem do povo havia chegado à presidência. Estando no cargo mais alto da República Lula não teria se desligado do brasileiro comum. Terminado o mandato, nada mais natural do que voltar ao seu lugar natural, ou seja, em meio ao povo.
Como bem perceberam alguns jornalistas, o trecho mais emblemático foi: "Saio do governo para viver a vida das ruas".
Óbvio a referência ao célebre "Saiu da vida para entrar na História". Não considero esta alusão como prova de após a tragédia (Vargas) viria a farsa (Lula). Intelectuais conservadores, de Direita e de uma suposta "extrema esquerda" repetiram ao longo dos últimos tempos que Lula repetia a estratégia varguista de culto à personalidade e autoritarismo. A negativa do presidente em concorrer a um terceiro mandato é prova irrefutável de seu respeito à uma  regra essencial do jogo.
Devo admitir que a trajetória, o carisma e a capacidade política de Lula na atual conjuntura política (Virtu e Fortuna?)  tiveram relevância semelhante às características manifestadas por Getúlio Vargas em outro momento histórico. Semelhanças que nos levam a desconsiderar uma diferença fundamental.
O complexto discurso político-ideológico varguista sempre destacou a ligação direta existente entre o Chefe da Pátria e o povo. O "maior dos brasileiros" interpretaria os anseios dos trabalhadores utilizando-se de atributos demiúrgicos. Vargas estaria concetado ao povo, mas seria irrefutavelmente diferente de todos os brasileiros por suas capacidade excepcionais.
Por seu turno, as peças publicitárias eleitorais, as declarações, as entrevistas e, principalmente, os pronunciamentos oficiais sempre priorizaram que o sucesso do governo e da figura de Lula se deviam às qualidades do povo brasileiro.  Lula seria um brasileiro comum que com um mix de sorte, fé e esforço teria obtido a vitória. Sua trajetória de vida seria a mesma de milhões de homens e mulheres. Ser igual a todos os brasileiros e brasileiras tornou-se seu maior capital político.
Terminado o mandato, nada mais natural do que voltar para as ruas. Ruas das pessoas, ruas da politica.
continua...

Pronunciamento de Lula - 23/12/10



A  Carta Testamento do Presidente Getúlio Vargas
    "Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
    Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
    Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
    Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
    Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
    E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História." (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)

23 de dez. de 2010

Enquanto isso em SP... Alckmin é internado com crise de soluço

Folha:

No Brasil, a Anistia. Na Argentina, prisão aos criminosos da Ditadura

Saiu no www.vermelho.org.br

Ditador argentino Rafael Videla é condenado à prisão perpétua

A Justiça Federal argentina condenou nessa quarta-feira (22) o general ditador argentino Jorge Rafael Videla (1976-1981) à prisão perpétua por crime contra a humanidade, após julgamento que durou seis meses, na província de Córdoba.

Videla, de 85 anos, deverá cumprir a pena numa cadeia comum. Ele foi julgado com outros 30 acusados de repressão, entre militares, policiais e carcereiros. No total, 13 receberam prisão perpétua.
Eles foram acusados de terem sequestrado, torturado e fuzilado 31 presos políticos, na cidade de Córdoba, em 1976. O juiz Jaime Diaz Gavier considerou Videla o mentor do caso. Com o ditador, também foi condenado também à perpétua o ex-chefe militar de seu governo, Luciano Menéndez.
Na véspera, Videla fez um discurso a favor do regime assassino, mostrado pelas emissoras de televisão argentinas. “Para mim, não foi uma guerra suja, mas uma guerra justa”, trovejou.

Da redação, com agências

A política externa na Era Lula

Artigo publicado na CartaMaior: